Na última semana repercutiu muito na mídia o dado dizendo que o aumento de dez dias no ano letivo pode elevar o aprendizado do aluno em até 44% no período de um ano. Segundo a imprensa esse é um dos resultados de um estudo do secretário executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros.
Como não sei exatamente quais as palavras Ricardo usou e que tipo de informações constavam em sua apresentação sobre o trabalho prefiro não discutir muito sobre o número em si antes de o próprio secretário e pesquisador explicar melhor os resultados de sua pesquisa. Acredito que talvez tenha havido uma falha de comunicação. Parece claro que é impossível um aumento de dez dias no ano letivo por si só aumentar o aprendizado do aluno em um ano em 44%.
Quero comentar a fala do pesquisador que consta no vídeo abaixo. Ricardo Paes de Barros diz: “O nosso trabalho… é saber se (busca saber), efetivamente, se a gente aumentar o ano letivo no Brasil (por exemplo), com os professores que nós temos, com as escolas que nós temos, com o currículo que nós temos, se isso vai melhorar o aprendizado dos alunos”.
Essa frase ao meu ver retrata uma falha de alguns economistas que analisam Educação no Brasil: não entender a limitação dos números. É limitado o número de estudos utilizados pela pesquisa coordenada por Ricardo, mais limitado ainda é o número de pesquisas nacionais (pois poucas passam nos critérios de um trabalho com essa proposta) e, mesmo assim, o pesquisador se propõe a mostrar as medidas em Educação que impactam o aprendizado dos alunos no Brasil e a magnitude (o que é o mais difícil) desse impacto.
Com certeza Ricardo se esforçou ao máximo em sua compilação de estudos para encontrar quais são as medidas que efetivamente impactam o aprendizado dos alunos. Mas, talvez pelo seu grande conhecimento matemático e técnico, o faltou uma maior reflexão sobre se realmente com a base de informações que ele analisou isso era possível. A Educação é um tema muito complexo e sério, e análises pautadas apenas em números e pesquisas (principalmente se apenas internacionais) muito dificilmente serão eficientes.
Por isso que defendo uma maior aproximação entre pesquisadores em Educação das exatas (em sua maioria economistas) e pesquisadores em Educação das humanas (em sua maioria pedagogos), pois se os pedagogos podem ver melhor o panorama da Educação com os dados dos economistas os economistas podem aprender e muito com os pedagogos, profissionais que geralmente estão muito mais próximos dos que devem ser os principais “clientes” de um sistema educacional: os alunos.
Não citando o Ricardo especificamente, mas às vezes me incomoda ver economistas com um conhecimento técnico muito bom, mas que não vivem Educação. Acompanhar cursos de formação de professores, conversar com pedagogos e visitar escolas são práticas que deveriam ser elementares de pesquisadores que apontam tantas causalidades em seus artigos acadêmicos. A matemática em Educação sem a devida reflexão e contextualização dos números é pouco útil.
- Observação 1: para quem não sabe sou graduado em ciências econômicas.
- Observação 2: o próximo post retomará as análises sobre o Enem.
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Parabéns pelo blog, uma iniciativa pioneira, séria e necessária
Obrigado por acompanhar o blog, Claudia. Abraços.