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Archive for the ‘Fluxo Escolar’ Category

Nas últimas semanas foram divulgados os resultados da Prova Brasil, do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015. Três importantes avaliações da nossa Educação Básica. Vários especialistas e jornalistas repercutiram os resultados, e a análise a seguir se propõe a apresentar o que eles representam de forma concreta. Para isso, é feita uma analogia. Imagine três fases na vida de seu filho:

Com 10 anos, ele tirava notas 6 e 7 na escola. Aluno regular, conseguia passar de ano sem grandes dificuldades e demonstrava uma razoável evolução em relação aos últimos anos. Sabia ler, escrever, dominava as quatro operações básicas, mas ainda podia se desenvolver mais em relação à compreensão leitora e raciocínio lógico, além de estudar pouco proativamente.

Já aos 14 anos, não via mais sentido na escola. Desde que ingressou nos anos finais tinha muitas dificuldades, principalmente com matemática. Não via sentido no que estudava e seu professor não conseguia engajá-lo para o estudo.

Já aos 18 anos estava no Ensino Médio, tendo passado por uma reprovação escolar. Pretendia entrar na universidade, mas se sentia muito pouco preparado para isso. Não sentia que aprendeu os conhecimentos cobrados pelos processos seletivos e tinha pouca noção das competências que precisava desenvolver e que caminhos ele podia seguir.

Podemos colocar que essas três fases representam os resultados que tivemos nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio de acordo com as avaliações.

O Ideb dos anos iniciais do Ensino Fundamental avançou, embora muitos alunos do país ainda apresentem um nível de proficiência muito abaixo do desejável. O Ideb da rede pública em 2015 foi de 5,3 e o Ideb geral do país foi de 5,5.

Já os anos finais têm avançado pouco nas últimas avaliações. As taxas de aprovação estão subindo muito lentamente e a evolução em proficiência é abaixo do desejável e não concretiza completamente os avanços dos anos iniciais em anos anteriores. O Ideb da rede pública para a etapa é de 4,2 e o Ideb geral do país é 4,5. E aqui cabe a pergunta: por que um aluno que está chegando razoavelmente melhor no 6º ano não termina razoavelmente melhor do que as gerações anteriores no 9º ano?

O Ensino Médio também apresenta índices preocupantes, não tendo evoluído nos últimos anos. As taxas de aprovação evoluem muito lentamente e os índices de proficiência são muito baixos. O Ideb da rede pública em 2015 foi de 3,5 e o Ideb geral do país foi de 3,7. Já os resultados no Enem mostram que os melhores resultados são sistematicamente obtidos por estudantes com melhor condição social.

O mais grave no caso do Ensino Médio ainda é que ninguém apontou o caminho. São Paulo e Pernambuco, redes estaduais com os melhores resultados no Ideb, apresentam índices muito baixos (3,9).

 

E como melhorar esses resultados?

Primeiramente, sabendo que não há uma única solução ou fórmula mágica. Um bom sistema educacional depende de várias ações estruturantes como um currículo de altas expectativas, uma boa formação de professores e um bom acompanhamento pedagógico. Não conseguirei aqui discutir da forma devida caminhos que poderíamos seguir, mas recomendo a leitura da série de estudos Excelência com Equidade que fizemos na Fundação Lemann em parceria com o Itaú BBA e o Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo. Essa série retrata qual o diferencial de escolas que conseguem bons resultados com alunos de baixa renda.

Quero aqui apenas me ater a discutir que um bom começo é não aceitar o inaceitável. Precisamos, mesmo com as dificuldades, ter altas expectativas e buscar garantir o aprendizado dos alunos. Nesse sentido, quero colocar a relevância de dois pontos.

O primeiro se refere à cultura da reprovação. Nossos índices de reprovação são inaceitáveis e a secretaria deve sempre trabalhar com a premissa de que todo aluno pode aprender. Os alunos que são reprovados tendem a ter mais chance de abandonar a escola, além de serem raros os casos de alunos repetentes que obtêm um bom nível de aprendizado. As secretarias de educação precisam dar as condições e o suporte para que escolas consigam garantir a recuperação de defasagens de aprendizagem ao longo do ano.

O segundo é: o foco de todo o sistema educacional deve ser o pedagógico. Alunos brasileiros erram sistematicamente alguns conteúdos, como fração. Não podemos deixar que as crianças não dominem conhecimentos básicos e importantes para a vida. Nesse sentido, orientado pelo que as escolas de bons resultados apontam, precisamos diagnosticar e trabalhar as habilidades que os alunos não dominam em ações de reforço escolar e programas de formação de professores.

Certamente, essas ações não resolvem todos os problemas, mas o olhar de que o aluno sempre pode aprender e todo o sistema orientado para os resultados pedagógicos já são um bom começo.

 

*Artigo originalmente escrito para o UOL: http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2016/10/15/fim-da-cultura-de-reprovacao-e-um-comeco-para-melhora-da-educacao.htm

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Primeiramente, quero começar me retratando por um post que escrevi no início de novembro (já apagado). Tenho ponderações em relação a conclusões de um estudo publicado, mas por ter o contato das pessoas que conduziram o trabalho deveria ter feito as críticas primeiramente de forma privada. Meu texto não foi na direção de uma academia melhor e mais colaborativa, nem respeitou da forma devida a trajetória dos coordenadores do estudo.

Nessa semana, apresento algumas análises que fiz sobre a meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE) no ano passado no blog da Fundação Lemann, e que ainda seguem válidas. Hoje, em Brasília, foi lançado o Observatório do PNE, uma iniciativa de diversas organizações liderada pelo Todos Pela Educação para acompanhar as metas do Plano Nacional de Educação, ainda em tramitação. A Fundação Lemann acompanhará justamente a sétima meta do plano. Considero essa uma importante iniciativa na busca de um maior envolvimento da sociedade com as políticas públicas em educação. No final do post disponibilizo também uma entrevista com a professora Lisete Arelaro e comigo sobre o Plano Nacional de Educação.

Como se pode perceber, não está fácil cumprir a meta de um post semanal, mas seguirei tentando. Já adianto que o próximo post discutirá os resultados da avaliação do Pisa em 2012, um dos principais exames internacionais em educação, que avalia jovens de 15 e 16 anos nas áreas de Matemática (que foi o foco em 2012), Leitura e Ciências.

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Análise referente à meta 7 do PNE

Meta 7: Atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb

Contexto
O Ideb foi criado em 2007 com o intuito de ilustrar por meio de um número a qualidade da Educação Brasileira unindo dois conceitos: aprendizado e fluxo escolar. O índice utiliza as taxas de aprovação nas etapas escolares e os respectivos resultados obtidos no final da etapa na avaliação Prova Brasil/Saeb.

Em cinco anos, o indicador se popularizou e se consolidou. A nota no Ideb se transformou em um indicador educacional simples e fácil de acompanhar para diversos setores da sociedade. As escolas e redes perseguem metas baseadas no Ideb e o impacto nas taxas de fluxo escolar que o indicador proporcionou é notável. Pais, jornalistas e gestores passaram a basear suas discussões e o debate sobre qualidade educacional em um índice comum. No período, também surgiram críticas, é claro. Por exemplo, o fato de o componente de fluxo ser uma medida de trajetória dos alunos e não de qualidade das escolas ou das redes, ou o ponto de não necessariamente todos os alunos fazerem a Prova Brasil, o que distorceria os resultados refletidos pelo indicador. Mesmo assim, é possível dizer que o balanço em seis anos é positivo e o indicador nos ajuda a fazer análises importantes.

Desafios

Os gráficos abaixo ilustram muito bem os desafios que serão colocados para o cumprimento da meta 7. Um deles, e mais discutido, é a necessidade de acelerar o ritmo de melhoria nos indicadores. A Figura 1 mostra como as evoluções nos anos finais do Ensino Fundamental (EF II) e no Ensino Médio (EM) foram bem abaixo da evolução na primeira etapa do Ensino Fundamental (EF I). E mesmo considerando que os alunos possam estar entrando um pouco mais preparados nessas etapas, as metas a partir de 2013 já começarão a se mostrar mais ambiciosas, principalmente considerando que é mais difícil evoluir quando se está em um patamar mais alto.

Figura 1: Evolução histórica e metas para o Ideb (Brasil)

                                      * Em tracejado as evoluções necessárias.

Um segundo desafio é a promoção de uma maior equidade nos indicadores das unidades da federação. A média nacional no Ideb, que é o que a meta 7 verifica, é um indicador muito importante. Mas não podemos ignorar a desigualdade que existe entre os estados brasileiros. Na figura abaixo, cada triângulo ilustra o valor do Ideb de cada um dos 27 estados (quando mais de um estado possui o mesmo valor de Ideb há triângulos sobrepostos). É possível ver a distribuição para os 3 níveis da Educação Básica.

Figura 2: Valores de Ideb das unidades da federação por etapa da Educação Básica em 2009

O que o gráfico nos mostra é o retrato da desigualdade, com resultados muito díspares entre os estados. Mesmo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com resultados consideravelmente melhor do que as outras etapas, ainda existe uma grande inequidade: enquanto o Distrito Federal e Minas Gerais obtiveram um Ideb de 5,6 o Pará teve um Ideb em 2009 de 3,9. Para o país, é importante cobrar que a Meta 7 seja atingida com todos os estados alcançando o Ideb ideal – e não com uma média de realidades muito desiguais.

Ao olharmos as políticas de países que se destacam em Educação, vemos várias medidas que podem ser adotadas para promover maior equidade. Na Irlanda, há políticas como relação aluno-professor reduzida nas escolas primárias localizadas em áreas urbanas com mais desvantagem e bônus com base no nível de desvantagem da escola. Na Bélgica, existe um mecanismo de auxílio e suporte a crianças em uma situação desfavorável. No Chile, país com os melhores resultados educacionais na América do Sul, há um acréscimo de salário para professores que atuam em áreas com difíceis condições de trabalho, como locais em que a taxa de criminalidade é alta. Aprender com esses países será um passo importante para o Brasil.

Programa Educação Brasileira – debate sobre o Plano Nacional de Educação (PNE)

  • Leia também:

Metas que não conversam com a realidade

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Segue abaixo entrevista que concedi para a jornalista Beatriz Rey, do blog Educação e Pesquisa, sobre as metas do Ideb.

Beatriz (Blog Educação e Pesquisa) – Você aponta diversas falhas das metas do Ideb. Qual seria o pior problema? 

Ernesto – Primeiramente, quero dizer que me ative aos problemas técnicos no texto, então aproveitarei essa entrevista para falar mais sobre as implicações desses problemas na prática. É importante deixar claro que elas são graves. Tenho segurança em dizer que a metodologia utilizada para a construção das metas não poderia ser aprovada sequer em um trabalho de conclusão de graduação. E digo isso sem deixar de respeitar as pessoas que construíram as metas, até por que me parece que, pelo perfil das mesmas, as falhas até são um pouco compreensíveis. O que é inadmissível é não ter havido um debate acadêmico maior a partir da criação do Ideb e de suas metas, principalmente pelo fato de muita gente estar sendo afetada pelos problemas que apontei.

Entre os problemas na formulação das metas talvez o mais grave tenha sido o olhar apenas para o valor do Ideb, sem uma atenção ao que o compõe (taxa de aprovação e desempenho na Prova Brasil). O esforço necessário para aumentar a taxa de aprovação é muito diferente do esforço necessário para melhorar o desempenho na prova. Isso vale para um caso de um Ideb muito baixo, como a Ana Aranha apontou em sua reportagem, mas também vale para casos em que o Ideb é mais alto. Por exemplo, uma rede municipal com um Ideb de 4,0 e com uma taxa de aprovação de 80% tem um desafio diferente de uma rede com um Ideb de 4,0 só que com uma taxa de aprovação de 100%. Se não houver problemas de abandono escolar, nessa rede pode-se aumentar a aprovação de forma unilateral, com “simples canetadas”. O que se costuma chamar de “promoção automática”. Então, não estamos falando de metas que falham com alguns. Os problemas conceituais na construção das metas geraram distorções de uma forma geral.

Beatriz (Blog Educação e Pesquisa) – O que você quer dizer com “pelo perfil das pessoas que fizeram as metas”? 

Ernesto – O criador do Ideb é um economista, e os economistas geralmente acreditam muito na ideia de que as pessoas respondem a incentivos, às vezes se atentando pouco as distorções que uma política pode causar. Além disso, a função logística é usada para prever crescimento em outras áreas (algumas com uma menor complexidade em relação à educação). Faltou para o Inep/MEC procurar saber o impacto que as metas teriam na gestão das escolas e redes, e também faltou um olhar mais atento ao indicador. Mas o chocante é, mesmo com a fragilidade das metas, não ter havido um debate acadêmico.

Beatriz (Blog Educação e Pesquisa) – Sobre a questão sobre o MEC/Inep terem considerado apenas o resultado de 2005 para a construção das metas. Qual seria a solução na época, já que o Ideb foi criado em 2007? Haveria um jeito de ter se calculado um Ideb “retroativo”? 

Ernesto – O Ideb foi criado em 2007 e a Prova Brasil em 2005. Então, antes da aplicação da Prova Brasil 2007 se criou o Ideb, e se calculou o que teria sido o Ideb 2005. A partir dos resultados de 2005 se fez metas para 2007 e para as demais avaliações futuras. Não é possível ter um indicador anterior a 2005 por esse ser o ano da primeira aplicação da Prova Brasil.

Considero que o importante em 2007 era criar um estímulo para as escolas e redes melhorarem em relação a elas mesmas. Havia poucos elementos para se dizer o quanto, pois as escolas e redes ainda tinham pouca familiaridade com a Prova Brasil, e menos ainda com a cultura de metas. Mas o problema dessa questão é mais grave agora, pois o que foi estipulado em 2005 não está fazendo sentido para muitas gestões que estão assumindo. Estão recebendo o que alguns chamariam de “herança bendita” ou “herança maldita”, a depender do patamar de Ideb em 2011 (ano da última avaliação).

Beatriz (Blog Educação e Pesquisa) – Quais as consequências, na prática, para escolas e redes, das outras falhas que você apresenta?

Ernesto – Esses problemas afetaram mais as escolas e redes com baixo ou alto desempenho. Escolas e redes com resultados mais medianos foram pouco afetadas. Pelo fato de a função logística pressupor que no futuro seja possível atingir um Ideb de 9,9, escolas e redes com desempenho alto em 2005 tinham que, pelas metas, evoluir ainda mais em direção a esse objetivo inatingível. Por isso, se vê metas absurdas nos patamares de 8,5 e 9.

Ainda falando sobre as escolas com bom desempenho, é importante se atentar ao fato de que o perfil dos alunos de uma avaliação para outra pode mudar. Por isso, metas muito ambiciosas se tornam um problema, pois geram um incentivo para a escola admitir apenas alunos para os quais é mais fácil garantir o aprendizado. Uma escola não pode ser punida por ter ido bem em uma avaliação, e é isso que se fez com as escolas que foram bem em 2005 ao se esperar que elas deverão sempre evoluir a partir do resultado desse ano. Por outro lado, escolas que foram muito mal em 2005 foram beneficiadas. O absurdo feito de apontar que uma rede que conseguiu um Ideb abaixo de 3,0 nos anos iniciais bateu a sua meta e uma rede que conseguiu um Ideb maior que 7 não bateu acho que já responde a sua pergunta.

Beatriz (Blog Educação e Pesquisa) – Por que essas questões não são mais debatidas? Por que há poucos pesquisadores (ou nenhum) falando sobre o assunto? 

Ernesto – Existem vários determinantes para isso. Primeiramente, vou destacar um: o debate sobre avaliações e uso de dados quantitativos no Brasil. Existe um grupo muito resistente às avaliações em larga escala no país, o que faz com que quem as defenda tenha medo de fazer críticas às mesmas e alimentar o discurso que se opõe a elas.

O grande problema de não colocar mais elementos no debate é que isso faz com que não avancemos no caminho de um sistema robusto de avaliações. Se as metas não conversam com a realidade, se os resultados não orientam o trabalho das escolas, e se o sistema avaliativo é pouco debatido entre os pesquisadores, certamente o investimento com as avaliações é ineficiente. Considero que é inegável a importância das avaliações, e mesmo com todos esses problemas, podemos ver que algumas escolas e redes evoluíram só pelo norte de haver um diagnóstico de como está o aprendizado dos alunos. As contribuições das avaliações e do Ideb, muito mais comunicável do que os resultados da Prova Brasil, são claras. Mas um sistema avaliativo tem que dar muito mais do que alguns números para as escolas e redes.

Há também o argumento de que as implicações dos problemas na formulação das metas são irrelevantes, com o argumento de que não existe uma grande bonificação vinculada ao cumprimento das metas. Primeiramente, esse argumento é equivocado, pois há incentivos que estão associados às metas. Um exemplo, é que a partir do Decreto do Plano De Metas Compromisso Todos Pela Educação, o antigo Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), em vigor até o início desse ano, estabeleceu em 2007 que “todas as escolas públicas rurais de educação básica recebem uma parcela suplementar, de 50% do valor do repasse, e as escolas urbanas de ensino fundamental que cumpriram as metas intermediárias do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estipuladas também recebem essa parcela suplementar.”

Outro ponto que ilustra a relevância da questão é que, se a meta 7 do Plano Nacional de Educação for aprovada, haverá um incentivo ainda maior em se atribuir mais mecanismos de responsabilização para as escolas e redes. Por fim, o problema também é relevante pois, se eu não espero que as redes e escolas devem atingir o indicado pelas projeções, não posso chamá-las de metas.

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Reportagem do Estado de S. Paulo desta terça-feira discute os baixos níveis de aprendizado nos estados das regiões Norte e Nordeste. Não é novidade que os indicadores econômicos e sociais do Norte e do Nordeste são piores do que os das outras regiões brasileiras. Também é sabido que os recursos financeiros são mais modestos. Quando discutimos as condições das grandes regiões em educação – que é provavelmente o meio mais eficiente para promover mudanças econômicas e sociais consistentes – também encontramos disparidades. Não tão óbvio, talvez, é que o apoio e o suporte que essas regiões recebem também estão aquém do recebido por outras.

Além dos recursos financeiros, estamos falando também de formação e políticas de auxílio para essas regiões. E aqui não estamos discutindo necessariamente mais programas (existem atualmente diversos programas federais em educação para regiões mais pobres, mas muitas vezes os municípios e estados não se inscrevem nos mesmos), mas sim a necessidade de um acompanhamento contínuo e de um constante apoio a essas regiões, inclusive da iniciativa privada, para que uma maior equidade possa ser promovida.

Mais do que apenas recursos, essas regiões são as que mais necessitam de suporte e diálogo – efetivo, e não algo de cima para baixo. Alguns dados evidenciam as disparidades: enquanto 45% dos professores da região Sudeste afirmam desenvolver com os alunos pelo menos 80% do conteúdo curricular, esse percentual é de apenas 30% na região Norte e de 27% na região Nordeste. Esses e outros dados podem ser vistos por estado no portal QEdu, uma plataforma de dados educacionais com informações sobre todo o país (www.qedu.org.br). As taxas de abandono e reprovação escolar também são mais altas nessas regiões. Dois em cada dez jovens do Norte/Nordeste do 3º ano (onde a idade média dos alunos é em torno de oito anos) ou são reprovados ou abandonam a escola. No Nordeste três de cada dez alunos são reprovados ou abandonam no 6º ano.

Algo está errado. Uma situação como essa é inadmissível e deveria gerar um desconforto em qualquer brasileiro. A não ser que considerássemos que os alunos dessas regiões podem aprender menos do que os alunos das outras regiões – e, obviamente, eles não podem, pois a educação é um direito.

Esses problemas estão longe de ser responsabilidade apenas do governo federal. Os governos estaduais e municipais dessas regiões, que são responsáveis por quase todo o atendimento dos alunos da Educação Básica, têm grande responsabilidade também. As últimas avaliações, pelo menos, têm mostrado alguns caminhos, com melhoras no estado do Ceará e o surgimento de algumas escolas nessas regiões com resultados de destaque.

O Estudo Excelência com Equidade, da Fundação Lemann e do Itaú BBA lançado no final do ano passado, apresenta características que levaram algumas escolas ao sucesso, incluindo três do Norte/Nordeste. Um dos diferenciais dessas escolas é terem conseguido criar uma cultura de acompanhamento e que foca no aprendizado de todos os alunos. E isso falta de uma maneira geral entre os profissionais do setor público. Não basta lançar projetos, é preciso efetivamente acompanhar e procurar entender o porquê de os alunos não estarem aprendendo. É preciso buscar a equidade para que pessoas que morem em Alagoas tenham as mesmas oportunidades de uma pessoa que mora em São Paulo.

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Primeiramente, quero desejar a todos um ótimo 2012! Desejo muita saúde, muita paz e muitas conquistas a todos os leitores!

Matéria do Estado de S. Paulo de Mariana Mandelli publicada no dia 28 de dezembro aponta os municípios brasileiros que apresentaram em 2010 as maiores taxas de reprovação escolar na rede pública no 1º ano do Ensino Fundamental (série em que a maioria dos alunos cursa com seis anos). Os dados são impressionantes, em diversos municípios a taxa é superior a 30%.

Não gosto muito de rankings e costumo evitá-los, mas sabendo que quando analisamos taxas de rendimento o dado médio diz muito pouco considero necessário que olhemos mais atentamente para locais que enfrentam problemas para que, assim, se possa auxiliá-los.

Como já discuti algumas vezes esse tema no portal deixo abaixo os links de posts anteriores. No dia 28 dei uma entrevista sobre o tema para a CBN também.

Leia também:

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A Univesp TV retransmitiu semana passada a entrevista que dei ao canal sobre o Estudando Nº 1, que aborda o tema da reprovação escolar. Segue a entrevista abaixo.

Veja também:

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Apresento a seguir a análise crítica da especialista e doutora em Educação Paula Louzano sobre os números do Estudando Nº 02. Paula analisou os dados de freqüência à pré-escola e de fluxo escolar no Brasil de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) 2009. Esses foram os primeiros temas investigados pela série Lições em Educação. O Estudando Nº 04 e o Estudando Nº 06 continuarão a série, que tem o intuito de avaliar a situação do Brasil em relação às práticas educacionais vistas quase com consenso entre os especialistas como importantes para a obtenção de uma Educação equânime e de qualidade.

Aproveito essa postagem para dizer que o Estudando deixará de ter datas fixas para a divulgação de novos estudos, para que, principalmente, as análises possam ser mais discutidas no portal.

Abaixo a análise de Paula:

Os resultados do último Pisa mostram não só a baixa qualidade da Educação brasileira em comparação aos países membros da OCDE, mas também nos ajudam a perceber algumas das mazelas do nosso sistema educacional.

Segundo o relatório, um quinto dos jovens brasileiros de 15 anos não podem sequer participar do exame por já estarem fora da escola, ou por não terem alcançado a primeira das séries avaliadas pelo Pisa (7ª série). Além disso, um quarto dos nossos alunos de 15 anos não está nas séries adequadas à sua idade. Na maioria dos países da OCDE, os jovens de 15 anos não só estão na escola, como também estudando nas séries que correspondem à sua idade.

Alguns dados levantados nos ajudam a compreender esse fenômeno. Quase um quarto dos alunos brasileiros de 15 anos reporta ter repetido pelo menos uma vez durante os últimos quatro anos do Ensino Fundamental.  Segundo a OCDE, em países onde mais alunos repetem séries, os resultados gerais tendem a ser piores, e a diferença de desempenho entre pessoas de nível socioeconômico diferente é maior.  Em um sistema com altos índices de repetência todos perdem, mas quem mais perde são os mais pobres e vulneráveis.

Outro aspecto diz respeito à frequência da pré-escola entre nossos alunos de 15 anos.  Enquanto mais de 70% dos jovens da OCDE frequentaram mais de um ano de pré-escola, apenas 42% dos jovens tiveram a mesma oportunidade no nosso país. É importante destacar que, quando esses alunos de 15 anos estavam no início de sua escolarização, o Ensino Fundamental no Brasil era de oito anos, e não de nove como agora. Isso explica porque a idade média de entrada no Ensino Fundamental declarada pelos alunos foi de 6,7 anos no caso brasileiro, e de 6 anos nos países da OCDE. Portanto, no caso dos que reportaram terem feito mais de dois anos de pré-escola no passado, esse tempo equivaleria hoje, na maioria das vezes, a apenas um ano.

Assim como em outras pesquisas internacionais, as análises do Pisa mostram que a frequência à pré-escola contribui para a melhoria do desempenho, mesmo quando considerada a origem social do aluno. Além disso, há uma relação positiva entre a proporção de alunos que fizeram pré-escola e a nota média do país no Pisa. Observa-se um aumento de 12 pontos no Pisa para cada 10 pontos percentuais de aumento na frequência da pré-escola. Isso significa que, se nossa taxa de frequência fosse comparável à dos países da OCDE, nossa nota no Pisa poderia aumentar em aproximadamente 36 pontos, o que nos aproximaria da nota média do Chile, por exemplo.

  • Ainda hoje será apresentado um novo post da seção Educação no Mundo, que abordará políticas que buscam uma Educação mais equânime. E amanhã será analisada a conclusão no Ensino Médio no Brasil e a conexão dessa etapa com o Ensino Superior. Embora o percentual de concluintes no Ensino Médio seja baixo no Brasil, ele é superior ao percentual de países como México, Turquia e Portugal. Mas nesses países uma maior parte dos que concluem o Ensino Médio concluem o Ensino Superior. Por que isso acontece? Discutiremos amanhã.

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Após o lançamento do Estudando Nº 01, algumas pessoas vieram me perguntar: “Mas as taxas de reprovação do Inep não mostram que o percentual de alunos reprovados é bem menor?” Em 2009, por exemplo, de acordo com o Inep a taxa de reprovação escolar no Ensino Fundamental foi 11,1%.

Para responder essa pergunta vou apresentar uma situação fictícia.

Imaginem uma escola que foi fundada em um certo ano, 2007, por exemplo, e que nesse primeiro ano só ofereceu o 1º ano do Ensino Fundamental. Nos anos posteriores ela selecionou mais alunos para o 1º ano e forneceu as séries seguintes para os alunos promovidos.

Nesse ano inaugural da escola haviam 100 alunos matriculados no 1º ano do Ensino Fundamental. Desses, 95 foram aprovados para o 2º ano. No ano seguinte, 95 alunos (nenhum evadiu) cursaram o 2º ano e 90 foram aprovados. No outro ano, 90 alunos cursaram o 3º ano e 85 foram aprovados… E assim por diante, isto é, cinco alunos não aprovados (reprovados ou que abandonaram) por série. As taxas de reprovação em todas essas séries são inferiores a 8%, mas dos 100 alunos matriculados no 1º ano do Ensino Fundamental em 2007 apenas 60 chegariam ao 9º ano em 2015. Os outros 40 se não abandonarem ou evadirem a escola chegarão ao 9º ano, nessa situação fictícia, em ano (s) posterior (es) com a característica de já ter sido reprovado ou de já ter abandonado a escola.

Com esse exemplo quero passar a mensagem de que reprovar 11% dos alunos de uma série é um percentual alto. Alto se comparado com os outros países do mundo. 11% faz com que ao final da Educação Básica o percentual de alunos já reprovados seja bem elevado (e aí a resposta para a pergunta).

Mas uma pergunta muito pertinente pode ser feita: “Há, em alguma série no país, mais de 90% dos alunos com aprendizado adequado?”

Não, não há, e por isso que precisamos que nossas escolas tenham um acompanhamento e um reforço escolar contínuo para os alunos com baixo aprendizado. Pois reprovar sem conseguir fornecer aprendizado a maioria dos alunos repetentes certamente não é uma solução.

Observações e avisos:

1. Caso tenha dúvida sobre os conceitos de rendimento escolar (aprovação, reprovação e abandono) e de transição escolar (promoção, repetência e evasão) nas páginas 3 e 4 do Estudando Nº 01 esses conceitos são explicados.

2. Quero avisar aos navegantes do blog que o Estudando Nº 02 foi adiado para a próxima segunda-feira e que passará a ser lançado a cada duas semanas. Com o lançamento da seção Números esse intervalo se faz necessário para que possamos discutir de forma adequada todos os números e estudos apresentados nesse portal.

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Ocimar Munhoz Alavarse é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor da Faculdade de Educação da USP, atuando principalmente nos seguintes temas: ciclos, progressão continuada, avaliação educacional e gestão educacional.

“Os fatores que explicariam a exclusão, ou mesmo o baixo aproveitamento da escolarização, extrapolam os mecanismos de avaliação internos às escolas, ainda que a esses estejam fortemente correlacionado. Se existe uma promoção automática adotada isoladamente, ela pode ensejar um esgarçamento da escolarização, não porque as crianças possam vir a “passar de ano sem saber”, mas porque aplicada a uma estrutura escolar, toda ela organizada para selecionar, pode redundar ou em uma transferência da seletividade para outros mecanismos, ou mesmo em resistência de professores, que se veem desarmados e desmotivados para o trabalho.

Assim, recoloca-se o entendimento de que é preciso compreender mais profundamente a organização e o funcionamento da escola, para que as propostas que se pretendam democráticas não resultem em seu contrário. E, nesse funcionamento, o ponto central deve ser a aprendizagem de cada aluno, ainda que o debate introduza o tema de quais devam ser as aprendizagens.”

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Seguindo a apresentação da opinião dos especialistas, Naercio Menezes Filho é doutor em economia pela Univesity College London, no Reino Unido, e atualmente professor titular (cátedra IFB) e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Professor associado da Universidade de São Paulo e consultor da Fundação Itaú Social. Já fez estudos sobre o programa de progressão continuada.

“Acho que não devemos reprovar nossos alunos na Educação Básica. A reprovação aumenta a evasão e não melhora significativamente o aprendizado. Os alunos reprovados sentem-se desestimulados e perdem contato com os amigos. Além disso, a reprovação não ajuda a recuperar o aluno, que continua tendo notas mais baixas do que seus colegas nos anos futuros.

Eu sou favorável à política de ciclos, ou progressão continuada. Acredito que ela deva ser implementada com um sistema de avaliações periódicas, de forma a permitir que os alunos com mais dificuldades tenham aulas de reforço ao longo do ano. Fiz uma avaliação do impacto da progressão continuada sobre a evasão e o desempenho dos alunos que mostra que a introdução dessa política traz uma taxa de retorno ao redor de 11% para a sociedade.”

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